Pages

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

#03 Um dia após o dia dos pais

E ai pessoal, de boa?



Ontem foi dia dos pais, mas também foi domingo, que é o dia em que mais trabalho, então o tempo foi bastante escarço. 
Daí você pode perguntar: Mas Quixote, foi dia dos pais, você não foi almoçar com seu pai, ou seu filho?
Não, pois não tenho ambos, e nem pretendo ter.
- Ta Quixote, posso entender que você não queira ter um filho, é uma escolha sua, mas não da pra escolher ter um pai!

Então, essa postagem é justamente sobre isso, como eu escolhi não ter um pai.


Talvez seja pessoalidade demais, mas acima de tudo é um blog pessoal, porque não, né?

Então..
Eu cresci com um modelo de família alternativo, com 2 mães! Não, minha mãe não é lésba, nem curiosa, eu fui criado com minha mãe e minha avó.
Minha vó trabalhou como enfermeira a metade da vida, a outra metade foi merendeira de uma escola primária do município, não por coincidência, escola que eu viria a estudar da antiga "alfa" até a quarta série, encerrando então o ensino primário, partindo para a quinta série, que era conhecida como primeiro ano do ginásio, mas chamávamos apenas de "5ª", e hoje é o 6º ano, porque a alfa não é mais alfa, é 1º ano... (mudam tanto esses nomes, puta que o pariu...)
Eu ia pra escola junto da dona Marilda (minha avó), e só vinha embora junto com ela, horas depois do final do dia de aula, pois ela só ia embora depois de terminar de limpar tudo e deixar tudo pronto para o próximo turno, mas eu não ligava, eu gostava da sensação de estar na escola, sem compromisso, sem outros alunos, era um pátio bonito, um campo de futebol feito de terra com traves de madeira, tinham 2 nogueiras enormes, que faziam proporcionalmente muita sombra e sujeira, mas era bonito ver as folhas caindo com o vento.

Nossa, entrei tanto em digressão que quase comecei a ensinar uma receita de miojo aqui, mas voltando ao foco;

Eu passava boa parte do dia com minha vó, e a outra parte com minha mãe que trabalhava o dia todo e só voltava no começo da noite, e minha vida seguiu assim por muitos anos, e todos esses anos eu fui conhecendo a imagem de 2 pais diferentes -embora a mesma pessoa-, minha mãe o descrevia de uma forma, minha vó o descrevia de outra. 

Pai segundo minha mãe: Um alcoólatra que escolheu a bebida à sua família.
Pai segundo minha avó: Um homem muito bondoso que fez algumas escolhas erradas.

Eu cresci sem a figura paterna ao meu lado, mesmo tendo durante alguns anos uma figura que tentou representar esse papel, que foi o homem que minha mãe veio a casar, mas infelizmente por questões que eu não consigo explicar, nunca foi visto como um pai, mas sim como um amigo, agora pai... pai mesmo, era aquele cara que existia na minha cabeça e que graças ao sonho que minha vó tinha de um encontro entre nós dois, me fez criar um sentimento comparável a saudade, uma saudade de alguém que nunca existiu até então.

Minha avó sempre buscou pistas sobre meu pai, perguntava a parentes distantes, amigos em comum, descobriu que ele fazia parte de tal igreja, entrou então em contato com uma rádio evangélica pra fazer um apelo, o apelo foi ouvido por alguém que conhecia alguém, que conhecia então o paradeiro do meu pai, o local onde ele trabalhava, uma padaria não muito longe da nossa casa, na mesma cidade, alguém confirmou, tinham visto meu pai, eu poderia conhecer meu pai finalmente, matar todas as dúvidas, carregando uma esperança inocente de que tudo mudaria, não sei o que mudaria, ou porque mudaria, ou pra que mudaria, mas mudaria! 

Então fomos nós ao encontro de meu pai, chegamos até a padaria e o encontramos de saída, era o fim do expediente dele, minha avó o reconheceu, o chamou! Ele olhou pra traz assustado, eu devia estar com a cara mais boba do universo, uma criança de 16 anos imaturo como se tivesse 10, a forma como ele me olhou não foi nem de perto tudo que eu imaginei que seria, ele não me reconheceu, (hoje vejo que era de se prever) e mesmo após minha avó dizer pra ele: "Sou eu, Marilda! E esse é seu filho!" Ele me olhou como se eu fosse um fantasma.
O desconforto foi imenso, e ele tinha muita pressa de sair dali, quase não falamos, ele deu um endereço, um telefone, pediu pra visita-lo no fim de semana, mas não expressou nenhum sentimento, ele só queria sair dali, foi muito estranho, mas a vontade era maior e eu fui mesmo assim.
Foi um domingo, eu fui até o apartamento onde ele morava junto com os outros 2 irmãos, meus tios que eu nem imaginava que existiam. Infelizmente não lembro sequer seus nomes, só características físicas, um homem alto de pele escura, que se parecia bastante comigo, e uma jovem senhora de pele clara, que ficou super encantada de me conhecer, foi a única que se emocionou de alguma forma alem de mim. E foi um dia super agradável, fui bem tratado, conversei com meu pai, ouvi promessas, ofertas de apoio nos meus estudos, pedidos de desculpas pela falta de coragem e o tempo que passou.
Nos falamos por telefone no dia seguinte, eu liguei pra ele na outra semana, conversamos um pouco, liguei novamente na semana posterior, depois mais uma vez... Minha mãe então ficou inquieta por perceber que ele não me ligava, que só eu o fazia, uma vez eu liguei e ele não estava em casa, deixei um recado com minha tia, pedi pra ele me ligar e esperei, esperei, dias, semana, semanas.. e nada!
Como esperado, fiquei muito chateado, mas segui a vida, também não o procurei mais, até que eu precisei dele pela primeira vez na vida, eu estava no primeiro ano do ensino médio, e nas escolas estaduais não davam livros didáticos, então os professores escolhiam determinado livro e os alunos tiravam xerox, faziam apostilas e tanto a minha avó quanto minha mãe me ajudaram com todas, mas faltavam duas, a de biologia e inglês, um total de 60 reais.
Ele tinha me oferecido ajuda nos estudos, eu não tinha mais nenhuma opção, pedi ajuda a ele, liguei pra ele pela última vez, expliquei toda a situação, então ele me disse que estava desapontado comigo por ligar só para lhe pedir dinheiro. Eu não soube o que dizer... Pedi desculpa e desliguei o telefone, chorei feito um bebê no travesseiro, foi então que eu decidi ir atrás do meu primeiro emprego, buscando provar pra mim que não precisava dele, nem de ninguém.
Infelizmente fui reprovado nas duas matérias por conta das apostilas, mas consegui me recuperar depois. 
O tempo passou, a escola ficou pra trás, já trabalhava em tempo integral como gerente de rede e fui fazer uma instalação de uma central wireless em um bairro no centro, tive de virar a noite trabalhando, depois dormi algumas horas. 
No dia seguinte, com 2 amigos de trabalho fomos em uma padaria tomar café da manhã, sentei no balcão, pedi 1 café expresso, um senhor me serviu o café sem olhar nos meus olhos, continuei rindo e conversando com o pessoal, tomei meu café e saí da padaria pra voltar ao trabalho, então contei com um sorriso no rosto pra eles: 
- Sabe o cara que nos serviu café agora a pouco? Ele era meu pai.

- Era, como assim era? 

Com o mesmo sorriso, respondi: 

-Era, até me servir aquele café.

Nem preciso dizer qual é a moral da história, não é?

Enfim, foi só uma pessoalidade, provavelmente não é da conta de ninguém, mas as vezes é bom externalizar, e a "magia dos dia dos pais" me remete muito a isso.

Parabéns a todos os pais que souberam fazer diferente, e fazer a diferença.

Infelizmente eu não tive,
felizmente eu não precisei.

Obrigado por ler, ficarei feliz se comentar e compartilhar sua opinião, grande abraço e até a próxima! ;)




Um comentário:

  1. Minha historia com ''pai'' é parecida com a sua,quase igual,porem eu fui criado sem mãe.E o meu pai que nunca me procurou...quando eu o procurei por ajuda PARA ESTUDOS que ele sempre prometeu e jurou ajudar me deu as costas :D E todas as noites ele esta no pupito de uma igreja pregando como o ''amor'' de Deus é grande.

    ResponderExcluir